A Ana dos Cabelos Ruivos, a Anne with an “e” e a Lili (que também é Ana)

Quando eu era miúda adorava ver a Ana dos Cabelos Ruivos na televisão.

Lembro-me de seguir fielmente todos os episódios, no período de votação do programa “Agora, Escolha”, com a Vera Roquete, na RTP.

A série passava depois do preview das duas séries em escolha.

E, enquanto as pessoas se decidiam e telefonavam para o programa para votar na sua série preferida, eu deliciava-me com as aventuras e desventuras da Ana.

Para mim, ver a Ana ocupava o prime-time do programa em questão, ela era a minha escolha.

Por vezes também via, no final, o programa selecionado pelo público, mas este nunca despertava em mim a mesma satisfação que eu encontrava na companhia da Ana.

Recentemente, a Ana veio, de novo, ao meu encontro e para minha alegria, num belo dia em que eu fazia zapping pela Netflix. Desta vez, apelidam-na de Anne with an “e”.

Nessa noite, depois de deitarmos os meninos, o Luís vai para o escritório e eu para a cozinha.

Ponho água a ferver na chaleira elétrica e vou ao armário buscar duas canecas. Escolho as brancas com corações vermelhos, que comprei há dois anos pelo S. Valentim, no Sainsbury’s.

Abro a gaveta dos chás, escolho a infusão de frutos silvestres e penso “a bebida aconchegante ideal, para acompanhar a minha AnnE”.

A chaleira dá sinal e eu desperto do meu daydream.

Preparo as duas canecas de chá e dirijo-me ao escritório.

“Fiz um chazinho para mim e para ti. Vais trabalhar? Eu vou ali para a sala, um bocadinho, ver um episódio da AnnE, sim?”

Ele já sabia do que eu estava a falar, pois quando chegou a casa e falámos sobre o nosso dia, reencontrar a Ana teve um lugar de destaque na descrição do meu.

“Não, vou só aceder, remotamente, aqui a um servidor para ficar a fazer umas coisas durante a noite.”

(Ele não perdeu tempo a explicar o que ia fazer, pois sabe que as informáticas são uma linguagem na qual me perco.)

“Dá-me dez minutos e eu já me junto a ti.”

“Ok!” Dirijo-me para a sala, com as duas canecas quentinhas na mão e um sorriso no rosto e no peito.

Sei que se ele estivesse sozinho não era esta, certamente, a série que veria, mas adoro que se junte a mim e partilhemos este momento juntos.

Coloco a caneca dele na mesinha ao lado do sofá.

Sento-me confortável e bebo um gole da minha infusão.

Este momento de antecipação é quase tão emocionante como os que se seguirão.

E eu, ali, sentadinha no sofá, começo a divagar por Green Gables, pela Vila das Flores e pelo passado, sonhando acordada.

Ele junta-se a mim passado pouco tempo.

Enquanto ele liga a televisão, eu puxo a mantinha de decoração, que está no bracinho da chaise longue do sofá, e coloco-a por cima das minhas perninhas.

Não é que esteja com frio, que aqui as casas estão sempre quentinhas. É mais pelo aconchego e mimo do seu toque felpudinho.

“Queres que coloque sobre as tuas pernas também, Lu?”

“’Tá bem, pode ser!”, e bebe um gole de infusão.

E eu também. E, nesse momento, o meu peito cada vez mais quentinho agradece o chazinho e o miminho.

E, durante os 45 minutos que se seguem, o tempo para e no mundo existimos só ele e eu (e a Anne na televisão), olhando, juntos, na mesma direção.

Nos momentos mais emotivos da trama, olho pelo canto do olho e vejo o meu Gilbert sorrir. Claro, mesmo sendo rapaz, só uma pessoa com coração de pedra seria incapaz de não se enternecer.

Já vos disse que adoro esta série?

Adoro a Ana e a Anne, que são no fundo a mesma pessoa.

Elas falam pelos cotovelos, tudo o que as rodeia desperta nelas longas prosápias poéticas.

Elas têm uma ânsia enorme de ajudar (embora, por vezes, e por isso, se metam em ‘trapalhadas’ ou sejam um pouco mal interpretadas).

Elas são sonhadoras e eternas românticas, têm uma imaginação fértil e flutuante e perdem-se (ou encontram-se), frequentemente, daydreaming em elaboradas semânticas.

As Anas adoram ler, escrever e brincar com as palavras.

Por vezes, falam de um modo que nem toda a gente entende na íntegra, ou concorda, mas, ainda assim, os que interessa e se interessam, sorriem e anuem.

E, por falar em pessoas que interessam e se interessam, vou voltar um pouco ao passado.

Há uns bons cinco anos, já eu era há uns sete mamã, reencontrei a minha amiga de infância, pela primeira vez, num quiosque em Condeixa.

A editora Planeta Agostini possibilitou o reencontro, ao oferecer a venda periódica de um vídeo.

Comprei um ou dois, os que havia na loja na altura e, ao chegar a casa, liguei para a editora.

Uma simpática senhora, do outro lado da linha, confirmou que era possível comprar os vídeos anteriores que eu tinha ‘perdido’ e, daí em diante, certifiquei-me de que não perdia mais nenhum.

Toda contente, procurei contagiar o meu filho com estes cartoons da minha infância, tal como também fiz com o Tom Sawyer e o Dartação.

Ele mostrou algum (pouco) interesse na Ana, talvez para não desiludir a mamã.

Contudo, ela nunca falou com o meu menino Luisinho como falou com a Lili menina e com o seu coraçãozinho.

O lado mais rapazão e rapazola do meu menino gostou um pouco do Tom (do qual também tínhamos alguns vídeos na estante, ao lado da Ana, provenientes da mesma procedência).

Contudo, a sua preferência recaiu sobre o cão mosqueteiro. Deste eu não tinha vídeos, mas ele viu alguns episódios no YouTube e até decorou a canção.

Ana dos Cabelos Ruivos e AnnE

Ao procurar imagens das caras das Anas, no Google, para ilustrar este texto, dei de caras com alguns sites e comentários menos simpáticos em relação a esta nova revisitação da Ana. (Corações de pedra!)

Pois, eu, adorei!

Não sei dizer se mais ou menos do que a primeira vez que a vi no ecrã, apenas digo que adorei revê-la!

Talvez pela companhia.

Talvez porque me trouxe boas lembranças e recordações.

Talvez porque ainda me sinta como a Lili menina de há trinta anos.

E é tão bom sentirmo-nos novamente, ou sempre, crianças, sem limitações e com imaginação sem limites.

Ter uma vida toda ainda à nossa frente, um universo de possibilidades para descobrir e mil aventuras para viver.

Nunca é tarde para se sonhar e subir às arvores, sem ter medo de eventuais arranhões ou dores.

Nunca é tarde para nos (re)enamorarmos, brincarmos ou bailarmos no meio das flores!

E para finalizar este post e completar o quadro anterior e a moldura primeira, deixo aqui uma collage das três Anas; juntando, à Ana dos Cabelos Ruivos e à Anne with an “e”, um cartoon da LiliAna, que me ofereceram no ano passado por brincadeira.

As três Anas – Ana dos Cabelos Ruivos*, AnnE* e LiliAna

*Imagens encontradas aqui:
https://www.facebook.com/122876520916/photos/a.10150779917320917/10151378580335917/?type=3
https://tvshowscancelled.com/anne-with-an-e-renewed-for-season-3-by-netflix-cbc/

Bem Haja!

2 comments

  1. Ai, Lili, que boas memórias me trouxeste! Identifico-me com tudo o que escreveste, com a agravante de o meu nome ser mesmo Ana! Adorava esta personagem, apenas dispensava os cabelos ruivos (hehehe)! Ainda hoje sonho em ter uma árvore frondosa como aquela onde a Ana brincava abrigada do resto do mundo!

    1. Ana do Meu Coração, tens um jardim enorme e lindo, numa casa igualmente enorme e linda (onde podes brincar abrigada do resto do mundo). Nesse belo jardim, podes plantar a árvore frondosa dos teus sonhos, ou aguardar um pouco para que cresçam ainda mais as que já plantaste.

      Já agora, também já apresentaste a Ana às tuas meninas? E que tal?

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