Posso não ter o talento de Saramago, mas tenho seguramente matéria suficiente para escrever um livro com o mesmo título.
Os nomes são algo muito importante e especial para mim e sinto-me sempre um pouco frustrada quando não consigo decorar os nomes dos meus alunos tão depressa quanto gostaria.
Na minha escola dou aulas a quase todas as turmas e, apesar de já estarmos em março, há alunos cujos nomes ainda não consegui fixar (Shame on me!).
Não é (só) para me desculpar, mas também não é uma tarefa fácil, sendo Londres uma cidade multicultural, como devem imaginar, há nomes que (ainda) tenho dificuldade em pronunciar, há, também, crianças com o mesmo nome ou com nomes muito parecidos, mas com grafia ou pronuncia ligeiramente diferente. E depois há também quem tenha irmãos noutras turmas e eu dou por mim a trocar-lhes os nomes.
Mas eles são uns fofinhos e nunca se chateiam nem levam a mal, eu é que gostava de não ter que recorrer tantas vezes ao sweetie, sempre que tenho que me dirigir a um aluno cujo nome não me consigo recordar.
Na escola, o meu teacher name, como se diz por aqui, é Miss Lily (em alturas em que se trata o professor pelo primeiro nome) ou Ms Cruz (eles pronunciam como Cruise). E, tal como eu, também eles às vezes têm dificuldade, não em memorizar (isso é logo, que eles são umas esponjinhas), mas sim em recordar como se escreve. Alguns escrevem Ms Cruise outros Miss Cruse (como se pode ler na mensagem fofinha de uma aluna do terceiro ano).

Nos meus primeiros tempos nesta escola tive um aluno que, uma vez, me perguntou se eu era da família do Tom Cruise!
Eu disse que não, mas que era da família de alguém que em tempos já tinha sido amiga do Tom Cruise, a Penélope Cruz.
Really, Miss?! Are you?!
Yes! We are cousins! I got the brains and she got the looks!
E, com a sua doce ingenuidade, eles acreditam que é mesmo verdade.
E porque não seria?
Afinal de contas, como sou professora de espanhol (apesar de eu lhes ter dito, quando me apresentei, que era portuguesa), para eles faz todo o sentido pensar que eu era não só espanhola, mas também prima da atriz.
Claro que, em seguida, desminto e digo que estava só a brincar, ao que eles respondem com algum desapontamento (pois era muito mais giro se fosse verdade)
Oh, Miss! We thought it was true!
E então, como não queria desapontar, respondi:
Well, in a way, we are all part of one big universal family, right? So, it’s not that far from the truth!