Nos meus tempos de estudante universitária, tive a sorte e o privilégio de ter professoras e professores extraordinários.
Uma delas foi a professora Maria Irene Ramalho.
Nas suas aulas de Literatura Norte-Americana, o tempo passava a correr.
Como agora quando me sento para escrever.
Nas suas aulas-maravilha, dava imenso gosto ouvi-la. Percebia-se que tinha uma cultura extraordinária, que não se circunscrevia, de todo, à literatura norte-americana.
Contudo, as primeiras aulas foram, para mim, aulas um tanto caóticas; como palestras dadas por mestres intemporais, que pululam e voam, de assunto em assunto, pois tanto é o que sabem e devem partilhar.
Estes palestrantes facilmente falam sobre tudo e sobre (o que a ouvidos despicientes pode soar a) nada, e nunca são banais.
Estes génios, por vezes, podem ser pessoas um tanto excêntricas e, como tal, não se ficam pelo concêntrico mainstream, nem se perdem com minudências ou aparências.
(Como o génio Carlos Fiolhais, que um dia vi falar em palco e que trajava meias de cores desiguais.)
A professora Ramalho tinha também, a meu ver, uma dessas pequenas excentricidades na aparência.
No seu caso, era ao nível do seu cabelinho, pois frequentemente se apresentava com uma ou outra melena totalmente em desalinho.
Nas aulas, inicialmente caóticas, da professora catedrática, era-me difícil tirar apontamentos.
Primeiro, porque falava mais depressa do que eu conseguia escrever.
Segundo, porque, por vezes, me parecia (a mim, atenção, pois eu ainda era muito ‘verdinha’) não haver um fio condutor.
E, terceiro, porque ao escrever eu não conseguia prestar a mesma atenção que prestaria se estivesse apenas concentrada na audição-maravilha da professora-inspiração.
Então, a dada altura, despreocupei-me com o registo e foquei-me apenas em fazer o que felt right and meaningful: ouvi-la!
E as aulas passaram a ser simplesmente mágicas e memoráveis.
Eu saía da sala de aula, que se localizava num dos pisos cimeiros da faculdade, de peito, conhecimento e coração cheios.
As suas aulas eram música para os meus ávidos ouvidos. Good days!
E, por falar em bons (e já sei que vou divagar, outra vez), é impossível falar da professora Maria Irene Ramalho e não falar sobre o seu parceiro de cadeira, o professor João Paulo Moreira, outro professor-génio, a quem ouvia com igual delícia.
Aprendi imenso com ele.
Ainda hoje me lembro, clara e vividamente, de obras que li, estudei e analisei nas suas aulas e fora delas, por sua excelente sugestão.
Textos que, tal como o professor, me ajudaram a despertar, a erguer as asas (e o véu da infinidade) e a fomentar e nutrir a minha atual identidade.
Há outro apontamento-aparte afetuoso que tenho de deixar registado neste testamento-saudoso.
Vi o professor João Paulo Moreira, uma ou duas vezes, fora do contexto de sala de aula, sempre acompanhado da sua mulher companheira, de mãos dadas e enamoradas.
E essa imagem de pessoa afetuosa acompanha as boas memórias que ainda hoje tenho dele.
Embora, nas primeiras aulas, o que sentia na sua presença fosse algum respeito-receio; talvez por me sentir ainda pouco confiante, muito bambina, menina da província e humilde estudante.
Voltando ao assunto em aparte, adorava e adoro ver casais maduros, e os bem madurinhos ainda mais, como dois belos pombinhos ou pardais, de mão dada e entrelaçada na rua.
Sinto-me “sobre a lua”! Adoro!
Adoro vê-lo e adoro fazê-lo!
E aqui tenho uma confissão e demonstração de gratidão a fazer.
No início da minha relação com o meu atual maridinho, já em Coimbra, ele adorava andar na rua da mão dada.
E eu, apalermada, discretamente fugia da sua mão, quando esta vinha ao encontro da minha.
Hoje, ao pensar nisso, penso que o faria, não por falta de sentimento, mas porque tal me estranharia.
Contudo, muitas vezes, aquilo que primeiro nos estranha, aos poucos, vai-se entranhando.
E eu, menina que não gostava de se dar e de partilhar abertamente afetos ou sensibilidades (talvez por não gostar de me sentir exposta, ou observada ou alvo de julgamentos ou ‘opinamentos’), atualmente (e agradeço ao meu amor e marido por isso), dou-me muito mais confiante e partilho muito mais, quando sinto que é pertinente.
E já me preocupo muito menos com o olhar e pensamento do outro, mesmo quando divergente.
Mas este à-vontade e confiança não chegaram de supetão.
Inicialmente, a florida Lily, embora escrevesse bastante, pouco libertava publicamente.
Porém, continuava a escrever em quantidade.
E, aos poucos, ia-se libertando mais em conformidade.
E foi conseguindo fazê-lo, porque ia enfraquecendo e calando as múltiplas vozes do ego, que lhe diziam para não partilhar.
E a Lily foi, paulatina e corajosamente, ao encontro e de encontro aos seus medos.
E são estes, e todos os seus sentimentos-pandilha, que nos condicionam nas nossas cárceres e recolhimentos de lagartinha.
Contudo, se nos deixássemos estar eternamente em modo cautious caterpillar, na segurança e conforto do casulo (num soninho que se quer apenas temporário), nunca despertaríamos para a bem-aventurança, nem voaríamos como a bela rainbow-coloured butterfly!
Yet, that is never the case, as Nature is in charge, and what is meant to be always is.
There are always natural and higher forces that guide and, lovingly, challenge and push us, to make sure that all is how it is meant and designed to be!
E pronto, termina aqui e assim este texto da Lily.
Um texto que começou por ser para recordar, com ternura, pessoas com as quais um dia muito aprendi, e terminou a ser sobre mim.
Um texto-caos de divagações, mix de línguas, de partilhas e de feelings.
E que eu vou publicar mesmo assim.
Publico porque sim e porque tem de ser.
E porque este caos é poesia para mim.
Poesia, pois nele me sinto viva, raw, criança e sem nó!
Menos velada, mais desperta, arco-íris e borboleta.
Mariposa, com dó e com uma cor em destaque na paleta, o rosa!
Até breve, amigos!
Vou até ali ao parque, aproveitar esta bela tarde de SunDay! Vou voar leve, livre, solta e airosa!
Os meus rapazes já estão ali à porta, à espera, impacientes, a chamar por mim, e a chamar-me de vagarosa.
“Slow-mummy, come on!”
“I’m coming, my loves, I’m coming!”