Liliana Cruz vai ao programa do Carlos Cruz

Há pouco, durante a hora de almoço e enquanto arrumava a cozinha, vai-se lá saber porquê, veio-me à mente a minha ida ao programa do Carlos Cruz na TV!

Lembram-se daquele programa que se chamava “Pão com Manteiga”?

Não?!

Eu também não, que esse passou na rádio, e eu só conheci o Carlos Cruz na televisão, mas achei piada a este nome (numa rápida pesquisa na net sobre os programas que apresentou), pois ainda há pouco escrevi um post sobre Pão com manteiga… e mimo.  

E o “1, 2, 3”, estão a ver?

Ou viam?

Eu via e adorava, embora gostasse ainda mais da versão espanhola que via, religiosamente, todas as semanas, na TVE.

(Foi assim que começou o meu enamoramento da língua espanhola.

Não sonhava eu, na altura, que desta língua e ensino seria hoje mestre; pelo menos é o que diz o diploma que está numa das molduras, ao lado das das duas licenciaturas, ali na estante, que sustém, também, outros tesouros dos tempos de estudante).

3,2,1 voltamos, de novo, ao passado, ao tempo do “1,2,3, diga lá outra vez”.

Infelizmente não foi a este saudoso programa que concorri.

Na altura não tinha idade para ser concorrente, nem tinha parceiro de equipa, nem sequer pretendente.

O programa a que escolhi ir era o ideal para a minha pessoa, na altura estudante de Línguas e Literaturas Modernas, e muito pouco dada a questões numéricas. O programa de televisão chamava-se “A Linha da Sorte”.

Lembram-se dele?

Pois, eu lembro-me e não pelos melhores motivos.

Este era “o programa onde 49 concorrentes partem à conquista de uma viagem de sonho”, dizia o Carlos Cruz ao iniciar o serão.

Penso que foi esta parte das viagens de sonho que me levou a concorrer, mas mal sabia eu o pesadelo que ia ser.

O pesadelo não foi certamente a viagem, pois nesse dia o destino era o México (que ainda não conheço, mas vou adorar conhecer) e a rapariga que ganhou certamente terá adorado!

O pesadelo foi a minha participação.

Vá, pesadelo é um pouco exagerado, vamos apenas dizer que foi uma experiência ligeiramente frustrante e humilhante.

Primeiro, porque adoraria ter ganho a viagem.

Hoje reconheço: ‘Olha, menina, para a próxima, se queres ganhar viagens de sonho a uma praia paradisíaca ou a uma cidade cosmopolita, vai a um programa que seja mais a tua praia, se queres fazer figura bonita!

Hum…?! Deixa cá ver? Gostas de palavras, não é? Podias ter ido à “Roda da Sorte” ou ao “Palavra Puxa Palavra”, não era?’

Pois era!

E embora, na altura, estivesse a estudar na Faculdade em Coimbra, não tive a faculdade de perceber que pessoa que percebe pouco de números e cálculos mentais não se deve meter em programa tais!

Aguentei-me nas primeiras rondas de problemas matemáticos e, depois, oops, apagaram-me a luz!

(Recordam-se de como funcionava o jogo?

Sempre que alguém errava, desligava-se a luz do concorrente.

Porém, antes de o fazerem, apontavam uma luz ainda mais forte a um dos losers da ronda.

A luz assemelhava-se a um holofote ou mesmo laser, para ter a humilhação, desculpem, a iluminação ou fulminação total.

Então, o Carlos Cruz dirigia-se a esse sortudo e conversava com a pessoa por uns breves minutos. Estão mesmo a ver quem foi a sortuda, certo?)

Carlos Cruz: “Liliana Cruz, concorrente n.º 34. Boa noite! Então, diga-me lá, qual foi o seu raciocínio? Como é que chegou a esse resultado?”

E a Liliana Cruz lá explicou o seu cálculo mental.

Carlos Cruz: “Pois, não estava nada mal pensado, mas no final, em vez de adicionar devia ter subtraído!”

E foi, então, que da minha cabecinha e boquinha maravilha saiu uma resposta-pérola, daquelas que não lembra a ninguém.

Não sei se foi dos nervos ou do calor dos holofotes, pura estupidez ou pressa de acabar o suplício.

Abri a boca e eis o que saiu:

“Ai, não me pergunte nada que eu sou de Letras!” …

E assim foi, ele não me perguntou mais nada.

Mas engane-se quem pensar que a humilhação tinha acabado.

Passo a partilhar.

Para mal dos meus pecados televisivos, levei comigo à gravação do programa o meu mano e o meu marido.

E esta foi a segunda razão da minha futura frustração.

Pois não é que estes dois malandrinhos, já uns largos mesinhos depois do programa ter ido para o ar, não paravam de me chatear, e volta e meia viravam-se para mim e diziam, em tom de gozo: “Ai, não me pergunte nada que eu sou de Letras!”

Mas voltemos, então, outra vez, ao passado…

As semanas passam, 3,2,1! E a noite do programa, em horário nobre, ao fim de semana, aí está.

A família reúne-se em volta da TV.

Uns trazem pipocas e sumos e sentam-se confortavelmente na plateia-sofá, como quem se prepara para assistir a um filme de entretenimento e comédia total.

Outra, com dor de barriga, senta-se e impacienta-se, amedrontada, como quem se prepara para ver um filme de terror, numa noite escura de luar.

Há ‘cagufa’ e galhofa no ar.

“Calem-se! O programa vai começar!” …

Meus amigos, termino dizendo, que muita consideração (ou compaixão) tiveram para comigo os senhores que fizeram a edição do “Linha da Sorte”.

Ou eles ou os anjinhos a quem pedi, com especial veemência, “Por favor, anjinhos, iluminem os senhores da produção e façam com que eles cortem aquela parte da frase espetacular!

Please!”.

E as minhas preces foram ouvidas!

Phew! (Alívio)

P.S. Podia pensar-se que, já que não ganhei a viagem ao México, eu tinha ganho, pelo menos, juízo e tinha aprendido a lição, mas não!

Passados uns bons anos, voltei à televisão.

E, desta vez, e outra vez à mistura com contas e números, a outro programa certo para mim!

Lembrou-se, a senhora minha mãezinha de levar vários membros da família em peregrinação ao programa.

E uma vez no estúdio de televisão, adivinham quem foi selecionada, para ir lá à frente adivinhar preços e levar lembranças da Câmara Municipal de Proença e bolos da região?

Conseguem adivinhar, também, qual é o programa em questão?

Bem Haja!

6 comments

  1. Não leves a mal as minhas risadas….
    Onde posso ver essas aparições Tuas na televisão???
    Muitos beijinhos meus e da Raquel…

    1. Meu querido Célio,
      Claro que não levo nada a mal as tuas risadas! A intenção era mesmo essa, espalhar um pouco de boa disposição.
      Eu própria também me diverti imenso a recordar e a escrever sobre estas experiências.

      Existe uma cassete VHS, com a gravação do primeiro tesourinho, algures numa caixa empoeirada, num sótão em Proença.
      O programa do Fernando Mendes estava gravado na box que já devolvemos à NOS.

      Muitos beijinhos para ti e para a Raquel, de toda a família LC! <3

  2. Muito bom! Com que então “… eu sou de Letras”
    Como se costuma dizer à 3a é de vez! Mas vê lá se da próxima escolhes algo com menos números e mais letras. Ah, ah
    Beijinhos

    1. Obrigada!
      Sim, já ganhei (mais) juízo e já aprendi a lição.
      Da próxima vez que for à televisão será pela atração das Letras. Mas como não há 2 sem 3, é muito provável que os números também se juntem à festa! 🙂

    1. Hi! 🙂
      Como já houve vários pedidos, vamos organizar uma nova noite de visionamento do programa (só do primeiro, o segundo não tenho). Novamente na casa da minha mummy, mas, desta vez, já só com galhofa, e ainda com pipocas caseiras e sumos naturais! 🙂

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