Querido, furei um pneu

Aconteceu tudo de repente. Ao regressar da escola do Leo, ao fazer uma curva, devia vir distraída com os meus pensamentos, em piloto automático, esqueci-me da traseira do carro e fiz a curva um pouco apertada. O som estrondoso do embate da jante/pneu no alto passeio foi o suficiente para me trazer de volta à realidade. ‘Ui, este som não augura nada de muito bom!’ pensei. Por uns segundos parecia estar tudo bem. Depois começo a ouvir um som familiar vindo do lado do embate. (O mês passado, a uma hora de Londres e de viagem, furou-se um pneu traseiro, do lado oposto ao de hoje.) Em velocidade bastante reduzida, conduzi até casa, durante uns 5/10 minutos, e estacionei o carro. Saí do mesmo com alguma apreensão… vi o estrago e permiti-me sentir, durante uns minutos, todas as sensações negativas que vieram ao de cima através do acidente.

Depois, respirei fundo e tentei perceber o que este incidente poderia querer comunicar. A ideia que aflorou no meu pensamento foi:

– tenho de estar ainda mais concentrada e presente no momento, em especial em momentos como a condução.

Naquele momento, não consegui vislumbrar mais nenhuma mensagem. Muitas vezes, só mais tarde conseguimos perceber a intenção, ou a lição a aprender, de muitos dos acontecimentos mais desafiantes pelos quais vamos passando. Tudo faz parte da vida, do jogo da vida.

(Tal como no jogo da Glória, ou no Snakes and Ladders, umas vezes avançamos mais rápido, outras mais devagar, noutras temos de recuar, noutras de pausar ou ficar sem jogar uma ou duas jogadas, a refletir sobre o jogo. Ora, tal como no jogo, é impossível saber ou selecionar o número de casas que o dado nos vai mandar avançar. Nós não controlamos essa parte, o que podemos controlar é a nossa reação perante a nossa sorte. Por outro lado, se perdermos ou não chegarmos em primeiro, podemos ficar frustrados ou zangados, e aí toda e qualquer diversão que tivemos durante o jogo fica anulada e o que fica em nós é essa sensação de frustração e irritação. Ou, podemos pensar ‘o importante foi jogar, divertirmo-nos, participar, parabéns a quem ficou em primeiro lugar, hoje foi ele amanhã posso ser eu’. E a sensação que fica em nós foi a de um momento bem passado, divertido e animado.)

Voltando ao episódio do carro, após o momento inicial de libertação do medo e da frustração, permiti-me estar grata, independentemente da maldade da situação:

– felizmente ia sozinha no carro;

– não embati contra ninguém nem contra outra viatura;

– não houve feridos;

– não é assim um arranjo tão dispendioso;

– tenho dinheiro para pagar o arranjo;

– tenho um carro (o carro que queria);

– posso conduzir;

– tenho um marido compreensivo que não me faz sentir mal pelo que aconteceu.

E esta lista podia continuar…

Há TANTOS motivos pelos quais devemos estar (e ser) gratos! E este vai ser o meu mantra de hoje, a afirmação positiva que vou procurar ter presente ao longo de todo o dia.

Ainda em relação ao incidente com o carro, se isto tivesse acontecido numa fase ou nível (do jogo) anterior, eu imagino que o meu dia seria condicionado pelas dores emocionais geradas (ou melhor, libertadas) pelo embate. O estrondo deste e a imagem do pneu furado estariam loop playing na minha cabeça; começaria a lamentar o sucedido, a despesa, talvez a culpar outros pelo incidente … E esta lista podia continuar.

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A minha querida Aninhas enviou-me esta imagem há algum tempo.
Hoje ilustra perfeitamente este post.
It’s all a matter of perspective. The perspective you select is a choice.

Esta mudança de perspetiva não é algo que eu tenha conseguido fazer de um dia para o outro, tem vindo a ser feita gradualmente. É fruto de alguns embates, de pausas e reflexões, de muitas leituras e conversas (interiores e exteriores). E são, precisamente, os embates, como o ligeiro de hoje, que nos auxiliam a crescer e evoluir. Na verdade, e como tal, é importante que nos treinemos a vê-los nesta perspetiva e a não receá-los. Pensemos na seguinte imagem: os desafios podem ser encarados como pedras que vamos encontrado no nosso caminho. Por uma lado, podemos pensar que dificultam a nossa caminhada, mas, na verdade, podem estar apenas a redirecionar-nos para o caminho certo. E se as valorizarmos e virmos de outra perspetiva, podemos até, por exemplo, empilhá-las para servirem de degrau. E, como tal, podem permitir-nos vislumbrar mais alto, atingir outro nível ou patamar mais elevado na escalada. É tudo uma questão de visão e perspetiva!

Esta visão das dificuldades como oportunidades (ou até mesmo como bênçãos) não é algo fácil de se conseguir de um momento para o outro. Contudo, se, a pouco e pouco, nos formos habituando a parar para oxigenar a nossa mente (inspirar, reter uns segundos e expirar) e fizermos um exercício de reflexão e desconstrução do acontecimento, passo a passo, mudando, a pouco e pouco, a nossa perspetiva, começamos a treinar a nossa mente e músculos mentais para pensar de modo diferente.

Comecemos com incidentes menores:

1. Hoje o meu patrão estava um chato;

2. O meu filho partiu uma jarra que era herança da minha bisavó;

3. Perdi o primeiro autocarro e o próximo só chega daqui a 15 minutos.

Pensemos: O que é que essa situação pode querer espelhar ou ilustrar? Que sentimentos e emoções desencadeia em nós, ou melhor, liberta do nosso íntimo? Permitamo-nos sentir durante uns minutos, mesmo que possa ser doloroso, pois esta fase é importante e antecede a libertação. Por isso, sintamo-nos gratos por esses sentimentos e sensações. E falando em gratidão, vejamos o(s) lado(s) positivo(s) e todos os motivos pelos quais devemos estar gratos, relacionados com a situação em questão:

1. Estou grata por ter trabalho (e há muitas pessoas sem trabalho);

2. Estou grata por ter um filho (e há muitas pessoas que não conseguem ter filhos) e tenho menos uma coisa a que limpar o pó;

3. Estou grata por não ter de esperar uma hora pelo próximo autocarro, vou aproveitar estes quinze minutos para ligar à minha amiga X, com quem queria ter falado ontem, mas não tive tempo.

Entretanto, chamei o meu filho LP para me ajudar com este exercício:

– “Mãe, desculpa lá, mas não estou a ver o que pode ter de positivo perder um autocarro, exceto se esse autocarro fosse ter um acidente e assim a pessoa estava salva!”.

– “Sim, isso também acontece, mas nessas situações a pessoa só se apercebe da sua sorte mais tarde. Eu estou a pensar em coisas que se pode pensar no momento. E não queremos que a pessoa pense ‘vou pensar que este autocarro vai ter um acidente e foi bom não ter entrado’; não queremos atrair essa situação de mal alheio para benefício próprio. Na verdade, o que pretendemos é pensar em algo positivo no momento, algo que ajude a fazer um shift mental, que ajude a mudar a nossa perspetiva e maneira de pensar e sentir. E, muitas vezes, basta isso para desencadear toda uma reação em cadeia, sabes? É que, se estivermos sintonizados na frequência certa, o Universo, a maioria das vezes, trata do assunto. Temos de ter a coragem de confiar na magia do Universo. Sabes, é que esse pequeno shift positivo no pensamento pode desencadear toda uma série de reações positivas em cadeia. Parece magia! Por exemplo, o autocarro seguinte até nem vai demorar quinze minutos como previsto, pois todos os semáforos por onde passou estavam magicamente com luz verde. Ou, como por magia ou milagre, passa pela paragem uma colega de trabalho que oferece boleia. Estás a ver como pode funcionar? A mamã sabe, por experiência própria, do que está a falar. E ainda, imagina que a conversa telefónica com a amiga, que era para ter acontecido no dia anterior, era muito importante que tivesse acontecido, mas não aconteceu por falta de tempo. E, então, o Universo interveio e organizou Ele o tempo da pessoa e deu-lhe ali a oportunidade de fazer o telefonema. Estás a ver como funciona?”

E vocês, também?

Há tantas histórias engraçadas destes encontros e desencontros mágicos, que até parecem enredos de um filme. Estou a lembrar-me de uma vez ter ouvido alguém a contar, por exemplo, que conheceu o marido quando ele lhe bateu no carro, trocaram números de telefone e foi, assim, o início de uma bela amizade e casório!

E histórias como estas há muitas, muitas. Certamente também conhecem algumas. Partilhem aqui, também, se tiverem tempo. Vamos espalhar magia, positividade, luz e amor! Promover uma mudança de perspetiva coletiva!

Bem haja!

Bem Haja!

1 comment

  1. Bem, em primeiro lugar, obrigada pela referência à “tua querida Aninhas”, que desconfio ser eu! Em segundo lugar, partilho uma experiência a nível profissional que vai ao encontro desta ideia de que o Universo está atento. Então, há uns dois anos, pensei concorrer a duas ofertas de escola distintas de modo a conciliar os dois horários, tratando-se de escolas próximas uma da outra. Tentei saber os horários em ambas as escolas, mas uma delas recusou-se a comunicar o horário em questão. Como os horários eram realmente muito pequenos e ainda a alguns quilómetros de casa, acabei por não concorrer a nenhum com receio de ter de ir à escola que não me quis informar todos os dias da semana, o que me poderia levar à situação (típica dos professores) de pagar para trabalhar. Os dias passaram, as semanas passaram, o receio de ter tomado a decisão errada surgia momentaneamente, mas eu tentava não pensar muito nisso. Até ao dia em que fui colocada! E onde fui colocada? Na escola que não me quis informar sobre o horário a concurso, tendo sido colocada mais tarde, mas num horário três vezes maior e numa única escola! Lilocas, eu sei, temos de ter paciência e aguardar!

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